Os explosivos quadrinhos atômicos
Os quadrinhos atômicos surgiram na década de 1940 e ficaram marcados por uma temática recorrente naqueles conturbados tempos da Segunda Guerra Mundial e nos anos pós-conflito.
Com a publicação da revista Atomic Comics - as primeiras edições traziam aventuras escritas e desenhadas por Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Superman -, em 1946, foi criado um gênero de histórias em quadrinhos que ajudou a disseminar a ideia de que a energia nuclear era benéfica e que ninguém deveria temer as armas que surgiam em consequência dela. Ao menos, era essa a intenção, já que muitas vezes também acabou contribuindo para espalhar o medo .
Super-heróis atômicos surgiam aos montes, na época. Como o poderoso Atoman - somente para citar um dos mais famosos -, cuja edição de estreia, pela Green Publishing (com data de capa de fevereiro de 1946), contou com a participação de ninguém menos que o cientista Albert Einstein.
Foram tantos gibis sobre o tema, que somente uma pesquisa longa e muito apurada permitiria, atualmente, quantificar com exatidão as publicações lançadas naqueles tempos. Mas não é difícil apontar centenas de títulos publicados somente nos anos 1940, sem contar as HQs isoladas que abordavam o assunto em revistas em quadrinhos de mix variado.
O Pato Donald chegou a protagonizar uma aventura do gênero, em 1947. Produzida por Carl Barks, Donald Duck's Atom Bomb (A bomba do Pato Donald, no Brasil) não era nem um pouco chocante. As explosões das bombas nucleares deixavam, no máximo, as vítimas com os cabelos queimados e espetados.
Uma das HQs mais interessantes desse período foi a institucional Learn How Dagwood Splits the Atom, escrita por Joe Musial (com orientação de alguns cientistas), desenhada por Chic Young e publicada em 1949 pela King Features Syndicate. Na aventura, o comilão e preguiçoso Dagwood, esposo de Blondie, ambos personagens criados por Young, é encolhido a um tamanho subatômico. A partir daí, os leitores são apresentados às complexidades da Física de uma maneira mais divertida e fácil de entender. O gibi foi encomendado por ninguém menos que o General Leslie R. Groves, o homem que supervisionou a construção das bombas nucleares que destruíram as cidade de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.
Nos anos 1950, foi a vez de Atomic Bunny, Atomic Cat e Atomic Mouse fazerem sucesso com a criançada. Eles eram, respectivamente, um coelho, um gato e um camundongo antropomorfizados que ganharam poderes atômicos e viraram heróis fantasiados. Gozaram de muito prestígio com o público infantil.
A energia atômica ainda continuou influenciando os quadrinhos por muito tempo. A partir dos anos 1960, durante a Guerra Fria, quando a tensão política entre Estados Unidos e União Soviética aumentava as chances de o planeta ser destruído em um conflito nuclear, frequentemente surgiam super-heróis cujos poderes eram resultantes de exposição a elementos radioativos. Formiga Atômica, Hulk, Homem-Aranha e Nuclear (com um visual parecido com o de Atoman) foram apenas alguns deles.
O tema já não é mais tão popular quanto antes. No entanto, se o terrorismo - mais terreno - e os eventos cósmicos - essencialmente apocalípticos - são a bola da vez nos quadrinhos de super-heróis, eles não têm o apelo que uma conflagração nuclear tinha nos anos 1950 e 1960, de acordo com a opinião do professor de História Ferenc Szasz, curador da exposição Zap, Zing, Zowee: Six Decades of Atomic Comics, realizada há alguns anos pelo Museu de Ciência Bradbury, no Novo México, Estados Unidos, e que apresentou uma vasta e rara coleção de quadrinhos relacionados à Era Atômica.
No site Authentic History Center, especializado em resgatar imagens e sons da cultura popular dos Estados Unidos, há uma seção inteiramente dedicada aos quadrinhos atômicos. Vale a pena acessar, saber mais sobre o assunto e conferir as capas de várias HQs clássicas, algumas delas protagonizadas por velhos conhecidos dos fãs de super-heróis da Marvel e da DC.
Outra boa pedida é o livro Atomic Comics: Cartoonists Confront the Nuclear World, de Ferenc Morton Szasz, lançado nos Estados Unidos há três anos e disponível em vários e-shops de lá.