Socorro! O que eu leio?
Com tantas opções, é cada vez mais difícil selecionar o que comprar
Foi-se a época de vacas magras, quando poucos gibis chegavam semanalmente às bancas. Livrarias? Nem pensar. Se elas tivessem HQs à venda, estariam, no máximo, na seção de humor.
Para sorte dos fãs, leitores e colecionadores, tudo mudou. Quase que diariamente novos títulos são colocados à venda, em bancas, livrarias e, principalmente, lojas especializadas. E o melhor: de todos os gêneros possíveis e imagináveis.
O grande problema é que, a menos que o leitor descubra ser o filho bastardo de Bruce Wayne ou Tony Stark e consiga o reconhecimento da paternidade, dificilmente terá dinheiro para comprar tudo. Nem sequer uma parte. E como a maioria está mais para Peter Parker, é hora de aproveitar a breve alegria proporcionada pelo 13° salário e conferir um rápido apanhado geral sobre quais as melhores opções disponíveis atualmente, para cada um analisar dentro de seus gostos e possibilidades.
Começando pelo básico – as bancas são dominadas, principalmente, pelos gêneros infantis, super-heróis e mangás, seguidos por faroeste, quadrinhos adultos e outras (poucas) opções.
Vejamos primeiro as infantis. Disney (Abril) e Turma da Mônica (Panini) dominam o cenário, ambos com diversos títulos e almanaques, além de edições especiais. Todas são, via de regra, revistas com tramas fechadas, geralmente HQs curtas. Como escolher? Olhe a capa. Folheie. Leia um trecho enquanto o jornaleiro dá aquela olhada feia. Vá pelo gosto pessoal. Ou compre todas logo de uma vez. Difícil, não?
Como sugestão, a série Clássicos do Cinema – Turma da Mônica, quando traz tramas completas, como, por exemplo, O Senhor dos Pincéis, é extremamente divertida. Já as coleções limitadas da Disney, como as quatro especiais comemorando os 80 anos do Pato Donald, também são ótima opção de leitura. Lembrando ainda que Luluzinha e Bolinha seguem com suas revistas mensais sendo lançadas pela Pixel.
Já quando o assunto é mangá, fica bem mais fácil. São apenas... quantas revistas novas por mês? 40? 50? Uma dica para o fã que não for hardcore é não se prender a tramas que nunca acabam. Com o perdão para quem curte, mas Naruto e One Piece já deram o que tinha que dar. Enquanto isso, uma boa pedida são as tramas curtas, com menos de 20 edições (há exceções) ou até mangás de volumes únicos. Neste quesito, boa parte dos títulos japoneses têm mantido um bom padrão de qualidade. Então, é só procurar o gênero que mais lhe agrada dentre a variada temática e fazer a compra sem dó na consciência.
Eu, no momento, acompanho 20th Century Boys e Assassination Classroom (Panini); Lúcifer e o Martelo e Yu-Yu Hakusho (JBC), Vagabond e Old Boy (Nova Sampa) e Usagi Drop (NewPop), dentre outros. Na verdade, tem mais alguns, parados na famosa pilha de leituras futuras.
Vamos agora aos indefectíveis, inabaláveis, paus pra toda obra... super-heróis! Começando pela parte que dói no coração de todo e qualquer colecionador – as mensais. Quem tem coragem de se desfazer ou parar de comprá-las? Que tristeza! Ou pior, ter a coleção incompleta (faltando só um número – quem nunca?).
Fato é que uma boa maneira de se economizar dinheiro é parar com as mensais, admitindo que elas misturam HQs intragáveis com outras de qualidade, e paga-se sempre pelo todo. Para compensar, a chance de as melhores saírem em encadernados existe, é real. Não só isso, também é possível comprar as mensais de segunda mão ou em ofertas imperdíveis posteriormente. Mas, sim, há o risco de ficar sem algum número. Um pesadelo.
Agora, se o sujeito desapegou, não precisa – nem deve – largar em definitivo os super-heróis. Afinal, quase mensalmente a Panini lança belas edições encadernadas, às vezes em capa dura por um preço decente, algumas imperdíveis. Só para ficar nos últimos tempos, merecem destaque a Coleção Histórica Marvel – Os Vingadores, Lanterna Verde – A Guerra dos Anéis Volumes # 1 e # 2 e O Livro do Destino, além das edições especiais e séries limitadas, como o Demolidor de Mark Waid e Miraclemen, que está chegando (não perca por nada!).
Outra boa opção é decidir por uma vez por todos – Marvete ou Decenauta? Sim, assumindo esse manto, quem sabe surja a coragem para largar de vez a compra de uma dessas casas publicadoras de heróis uniformizados, em prol da outra. Fácil, né? Até parece.
E tem mais: outra linha de super-heróis que merece uma chance são os títulos da HQM, X-0 Manowar e Universo Valiant, que têm mantido um bom padrão de qualidade.
Investimento certo para quem quer garantir leitura de qualidade são os quadrinhos adultos. Aqui, o destaque fica para a linha Vertigo. Os Invisíveis, Preacher, Transmetropolitan, Fábulas e O Monstro do Pântano de Alan Moore são títulos que figuram como algumas das melhores opções norte-americanas dirigidas ao leitor maduro. São escolhas certeiras.
Esse gênero adulto é farto em lançamentos, como Saga e Happy! (Devir), Do Inferno e Sorge – O Espião (Veneta), Os mortos-vivos e Zero Point (HQM), Violent Cases (Aleph), Os quatro rios e Kaputt (Martins Fontes), Macanudo (Zarabatana)... Títulos que são parte de uma lista de ótimas opções que parece não ter fim e, detalhe: tudo isso que citei foi colocado à venda recentemente.
Nesse nicho para adultos, não tem como esquecer os autores nacionais, que cada vez mais publicam HQs que não fazem feio perante a produção de qualquer outro país, seja em títulos lançados por editoras consagradas, seja pelos independentes, que surpreendem a cada ano pela qualidade, inclusive revelando novos talentos para o mercado.
Ainda não é hora de opinar sobre os melhores títulos nacionais publicados em 2014, mas fica a dica para quem deixou passar batido: A vida de Jonas (Zarabatana), Tungstênio (Veneta), Aos cuidados de Rafaela (Zarabatana), Cumbe (Veneta) e a Graphic MSP Bidu – Caminhos (Panini) merecem muito ser lidas.
Aproveitando o gancho, alguns autores do selo Graphic MSP têm lançado novos títulos. São Jorge, de Danilo Beyruth, e Valente, de Vitor Cafaggi, ambos publicados pela Panini, ainda podem ser encontrados à venda. Valem a pena. Isso sem esquecer as editoras Draco, com a série Imaginários em Quadrinhos, Jambô, republicando Holy Avenger e lançando HQs nacionais inéditas, e a Marsupial, que promete novidades para dezembro, como Feitiço da Vila – A poesia de Noel Rosa em quadrinhos e outros títulos.
Em relação aos independentes nacionais, vou “pular” o gênero e não citarei nenhuma HQ. Primeiro porque opiniões são gostos pessoais, e também porque dependem da oportunidade de ter ou não determinado título em mãos. Com certeza, haverá injustiça com bons autores, dado o elevado número de HQs publicadas recentemente no segmento.
Assim, para adquirir os melhores nacionais independentes, basta pesquisar em sites sobre quadrinhos (conhece o Universo HQ?), visitar eventos de cultura pop, ler notícias, sinopses, resenhas, conferir dicas dos amigos e, finalmente, escolher o que comprar. Nem que seja por impulso! E, se você não deu chance para este mercado, não sabe o que está perdendo – muitos dos autores em destaque atualmente começaram por aqui. Outros tantos seguem publicando títulos excelentes. Fica a dica.
Também não citarei adaptações literárias em quadrinhos – o volume é imenso, e comprei/li poucas.
Falemos agora das HQs europeias. Duas editoras quase que dominam esse mercado. A Mythos publica alguns títulos italianos, dentre eles o consagrado e inoxidável caubói Tex. Destaque para a recente coleção em capa dura Tex Gigante, republicando as HQs da série em cores, e que vale seu peso em ouro. Aliás, a editora traz outras ótimas opções, como Hellboy e a revista de terror Cripta, mas tem um preço que é uma “belezura”.
Para quem não quer gastar tanto, vale acompanhar a revista mensal Juiz Dredd Megazine, com material de qualidade produzido originalmente na Inglaterra pela 2000 AD e com nomes consagrados nos quadrinhos, como Neil Gaiman e Alan Moore, dentre outros. Além disso, a editora também tem lançado especiais dessa linha.
Ainda sobre os europeus, olho na Nemo. Atualmente a editora publica a série em seis volumes O mundo de Edena, de um nos maiores nomes da arte sequencial de todos os tempos, o francês Moebius, e a coleção erótica Safadas, também com criadores de renome nos roteiros e arte.
E os clássicos? Infelizmente, esses parecem estar quase que relegados ao segundo plano. A editora Kalaco vinha fazendo um trabalho bacana no gênero, mas parou. Fica como opção imperdível a séria Peanuts Completo, da L&PM, com todas as tiras de Snoopy e sua turma em ordem cronológica. A Pixel Media merece a atenção dos leitores, com os clássicos da King Features (Recruta Zero, Mandrake, Fantasma, Popeye) em edições especiais. Já quanto aos criadores brasileiros, vale citar o resgate história de autores independentes feitos por duas pequenas editoras que colocaram novos volumes à venda nos últimos meses – a Ugra Press, com a coleção Maldito Seja, e a Atomic, com a coleção Monstros dos Fanzines.
Outra dica é sempre visitar os sites de financiamento coletivo, que têm possibilitado a publicação de títulos nacionais bem bacanas, com a opção de “recompensas” variadas para os colaboradores.
Antes de entrar no último tópico, é importante mencionar o crescimento contínuo dos eventos de cultura pop no Brasil, com as feiras, festivais e “comic cons”. Qual a relação disso com dicas para comprar e ler HQs? Total. Neles, é possível conhecer os autores, folhear os lançamentos, regatear preços, parcelar pagamentos e sair feliz da vida com dois carrinhos de supermercado lotados de gibis. Não é demais?
E vou finalizar falando delas. As viciantes, as fantásticas, as luxuosas... coleções quinzenais.
Embora estejam há anos presentes em bancas, o segmento “pegou fogo” mesmo para os fãs de quadrinhos com o lançamento, por parte da Eaglemoss, da Coleção Miniaturas Marvel. O sucesso foi animador, já que, em seguida, a editora lançou a Coleção Miniaturas DC.
Não parou por aí... a Salvat lançou então a Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, com HQs em capa dura e formando uma linda lombada (que teve uma delas invertida, para "alegria" dos fãs). A Planeta DeAgostini entrou na brincadeira com a Coleção Star Wars. Tudo indica que, em breve, deve chegar às bancas DC Comics – Coleção de Graphic Novels, pela Eaglemoss. Fora uma coleção de adaptações literárias em capa dura da Edições Del Prado que vem sendo publicada mensalmente e outra de Placas Marvel Colecionáveis, da Planeta DeAgostini, que está em fase de testes.
Segue a sugestão do autor da matéria para os pobres colecionadores que não sabem o que fazer ou como selecionar qual coleção comprar. É só quebrar o cofrinho, optar por fazer um empréstimo ou, então, finalmente, chorar sentado. Afinal, em pé cansa. Isso se, além de tudo, você não for um maluco que procura desesperadamente por gibis antigos. Para vai.
(Acha que eu esqueci algo importante lançado recentemente? Coloque nos comentários!)
Marcelo Naranjo acredita que ainda faltou muito material para citar no texto. Que tal ele lançar uma coleção quinzenal sobre o assunto, nas bancas, com um bonequinho baseado na equipe do Universo HQ grátis em cada número? Hein? Vai ter encalhe só por causa dos bonequinhos? Pô, que maldade...