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Filmes

Crítica Homem-Aranha – Sem volta para casa: com grandes crossovers, vêm grandes responsabilidades

20 dezembro 2021

A primeira trilogia do Homem-Aranha nos cinemas, estrelada por Tobey Maguire, teve dois excelentes filmes e um terceiro que se perdeu com tantas tramas de vários vilões, sem conseguir investir emocionalmente em nenhum. O resultado foi um filme raso e lembrado apenas por sequências de lutas interessantes.

Com uma nova trilogia chegando ao fim, o amigão da vizinhança encara, pelo menos, cinco vilões. Os trailers de Homem-Aranha – Sem volta para casa revelaram a presença de Dr. Octopus, Duende Verde, Electro, Lagarto e Homem-Areia, e os receios de que os erros do passado fossem cometidos novamente eram inevitáveis.

A proposta hercúlea de lidar com tantos personagens e conseguir entregar uma história coesa, com densidade emocional e narrativa atraente é extremamente complexa, ainda mais quando se leva em conta que tais vilões são dos filmes pregressos, entrando no Universo Marvel Cinematográfico conforme a própria começa a explorar as possibilidades de seu multiverso.

Portanto, a surpresa de chegar ao fim dos 148 minutos de duração de um filme absolutamente cativante é um baita presente de Natal para os fãs do estúdio, que se esforça para manter o hype em suas produções após as épicas conclusões de Vingadores – Ultimato.

Tom Holland faz um bom trabalho desde que assumiu o manto do Homem-Aranha, mas aqui entrega sua melhor interpretação. Seu Peter Parker passa por um enorme processo de amadurecimento e, como é de praxe do herói, diversos sacrifícios por assumir a responsabilidade de almejar os objetivos mais corretos e empáticos. O fardo de acontecimentos tão pesados é sentido em seus ombros, que perderam qualquer leveza ao ter sua identidade secreta revelada para o mundo, no último filme.

Isso leva o protagonista a pedir ajuda ao Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch), para que ele possa fazer um feitiço que reverta tal situação. As coisas dão errado e passagens se abrem entre diferentes universos onde existem Homens-Aranhas e pessoas que sabem suas identidades secretas.

Esta é a porta de entrada para que atores reprisem seus papéis antagônicos, garantindo uma bela injeção de nostalgia e talento. É verdade que, mesmo tendo seu peso na trama, o Lagarto (Rhys Ifans) e o Homem-Areia (Thomas Haden Church) ficam em segundo plano, mas parece ser uma dose correta, porque quando Electro (Jamie Foxx), Dr. Octopus (Alfred Molina) e Duende Verde (Willem Dafoe) estão em tela, tudo ganha mais vida e, com o perdão do trocadilho, eletricidade.

O Electro deste filme é um personagem bem mais interessante do que foi quando apareceu em O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro, e Foxx abraça a oportunidade de usar seu carisma para entregar algumas boas camadas adicionais. Molina esbanja talento e faz parecer que saiu do set de Homem-Aranha 2 um dia antes das filmagens deste, trazendo seu vilão à vida com naturalidade. Dafoe está simplesmente fenomenal. O perturbado Osborn e suas duas personalidades fornecem situações perfeitas para que o ator destile fragilidade, soberba, megalomania e prazer em ferrar com a vida de Parker.

E o grande trunfo do filme está aí. O roteiro (mesmo não sendo dos mais polidos) consegue trazer elementos vitais dos longas de onde esses vilões vieram de forma a terem função intrínseca na trama deste.

A nostalgia, além de bem-vinda, não é gratuita, está mesclada aos elementos do UCM e acaba por honrar toda a iconografia do aracnídeo, exaltando Peter Parker por seu caráter e seus valores. Em certo momento, ele peita o Dr. Estranho sobre que decisão deve ser tomada a respeito dos vilões, e sua escolha pode parecer piegas, mas destaca o espírito de um herói que entende sua responsabilidade de ajudar outros.

Dr. Estranho, aliás, não tem grande participação na trama, dando a Parker uma bem-vinda oportunidade de ter que agir por si só, saindo debaixo da asa de figuras mais experientes. Isso o põe em um duro caminho para a maturidade, que termina com um protagonista transformado, mais do que nunca, no Homem-Aranha.

Há acenos a momentos específicos dos outros filmes que são realmente tocantes, exemplificando como este longa praticamente não tem easter eggs gratuitos (e, mesmo quando isso acontece, estão bem encaixados).

O roteiro tem seus furos e alguns acontecimentos convenientes demais, mas não dá tempo de causar real incômodo. A duração é longa, mas o ritmo é frenético e praticamente não se nota barrigas narrativas. A direção de Jon Watts, embora competente, não é das mais criativas. É inegável que há sequências inesquecíveis aqui, mas há muitas outras que poderiam ter sido realçadas com uma visão mais talentosa.

Mesmo com alguns erros perceptíveis, a quantidade de acertos é tão maior que fica impossível não se deliciar com o que se vê na tela. É louvável um projeto tão complicado ter saído tão bem amarrado. O impecável elenco entrega momentos marcantes de jornadas emocionais bem construídas, resultando em um dos melhores filmes do Homem-Aranha já feitos.

Há uma cena pós-créditos que, honestamente, não faz sentido e outra, ao final, que é basicamente um trailer de um futuro projeto da Marvel nos cinemas.

Homem-Aranha – Sem volta para casa
Duração: 148 minutos
Estúdios: Sony Pictures e Marvel Studios
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Jacob Batalon, Jon Favreau, Benedict Cumberbatch, Marisa Tomei, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Thomas Haden Church, Rhys Ifans, Benedict Wong, Tony Revolori, Angourie Rice, JK Simmons, Tom Hardy

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