Chocolate, uma fábula adocicada
Como a maioria dos filmes sobre comida, Chocolate é uma produção saborosa, que enche os olhos e faz o espectador sair “leve” do cinema. Não é uma trama original, várias outras já abordaram o mesmo tema, porém, é bem feitinho e muito agradável de se assistir.
Com cinco indicações ao Oscar – melhor filme; atriz, Juliette Binoche; atriz coadjuvante, Judi Dench; trilha incidental, Rachel Portman; e roteiro adaptado, Robert Nelson Jacobs -,Chocolate vai enfrentar um páreo duro e muitos atribuem as indicações mais ao poder de fogo da Miramax, do que às qualidades do filme.
Baseado no livro homônimo de Joanne Harris, lançado no Brasil pela Editora Record, adaptado por Robert Nelson Jacobs e dirigido por Lasse Hallström (de Regras da Vida), o filme é uma fábula sobre repressão, poderes e liberdade. A ação passa-se num vilarejo francês, dominado pelo prefeito Reynaud (Alfred Molina, Magnólia). Conservador, reprimido, abandonado pela mulher, ele intimida a todos. A cidade vive numa pasmaceira, já que ninguém se atreve a enfrentá-lo.
Até a chegada de Vianne (Juliette Binoche, O Paciente Inglês) e sua filha Anouk (Victoire Thivisol, garota que ganhou o prêmio de melhor atriz do Festival de Veneza, aos quatro anos de idade, por Ponette), que desembarca na cidade em plena quaresma, para abrir uma loja de chocolates com deliciosas guloseimas.
É claro que ela vai entrar em conflito com Reynaud, pois sua alquimia culinária começa a interferir no cotidiano da cidade. É por meio de seus temperados chocolates que a vida das pessoas se altera. Para melhor, é claro.
Elenco de peso – Em sua primeira parte, enquanto Vianne se estabelece na cidade, Chocolateestá perfeito. Depois, perde um pouco o ritmo, ficando previsível. Mesmo assim, ainda vale a pena. Principalmente, porque o elenco está totalmente adequado aos personagens. Judi Dench (Chá com Mussolini), como sempre, rouba a cena sempre que aparece, embora esteja em papel semelhante a outros já feitos. Carrie-Anne Moss (Matrix), aqui como uma mulher conservadora, demonstra a sua versatilidade de atriz.
Johnny Depp (A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça) demora muito a aparecer, mas está bem e muito bonito, deixando um pouco de lado os personagens atrapalhados que interpretou em seus filmes mais recentes. O elenco conta ainda com Lena Olin (O Último Portal, mulher do diretor Lasse Hallström na vida real), Peter Stomare (Dançando no Escuro) e a veterana Leslie Caron.
Chocolate passa várias mensagens, sem ser chato. Talvez, a mais sensível e bonita, seja a da garota Anouk. Filha única, sem companhia da mesma idade, ela faz algo comum a toda criança: cria um amigo invisível, com quem dialoga e brinca. Durante toda a trama ela se relaciona com seu amigo canguru e o final, quando ela atinge uma certa maturidade, é muito bonito. Mas é melhor vê-lo na tela, do que sabê-lo por estas linhas.
Nota