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Resenha: Batman vs. Superman tem abordagem adulta e explora a influência de super-heróis no mundo real

24 março 2016

Há quase três anos, a Warner Bros. confirmou que faria uma continuação de O Homem de Aço (2013), durante um anúncio na San Diego Comic Con que rapidamente atraiu a atenção de todos por confirmar o encontro de Batman e Superman pela primeira vez no cinema.

Nos quase mil dias seguintes até a estreia, que acontece hoje (dia 24 de março) em circuito nacional, poucas vezes se viu uma cobertura tão grande, incluindo rumores e especulações em doses diárias.

O filme tem uma responsabilidade que vai muito além de seus 150 minutos de projeção, pois é a partir dele que todo um cronograma de aproximadamente dez longas-metragens se apoia. O objetivo foi alcançado?

Batman vs. Superman - A origem da justiçaBatman vs. Superman - A origem da justiça

Batman vs. Superman – A origem da justiça segue os acontecimentos de O Homem de Aço (leia nossa crítica aqui). Como já havia ficado claro nos trailers e sinopses divulgados, a batalha de Metrópolis entre Superman e General Zod é o ponto de partida para toda a trama e a obsessiva missão autoimposta do Batman para deter o herói kryptoniano, que ele acredita ser uma ameaça para toda a raça humana.

Ao revisitar a destruição da cidade sob a perspectiva de Bruce Wayne e da população da cidade, a sequência lembra o que foi visto nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Este é o evento definidor deste universo cinematográfico.

Por todo o mundo, buscas são feitas para recuperar artefatos kryptonianos.

A partir daí, outros personagens são introduzidos, dentre eles Alfred Pennyworth, Lex Luthor, Mulher-Maravilha e Apocalypse.

O decorrer da história é bem diferente do que os trailers dão a entender. É um filme com abordagem adulta, cuja maior parte do tempo é dedicada a analisar e explorar a identidade civis desses personagens e a repercussão que seres com habilidades especiais teriam em vários aspectos da sociedade, como entretenimento, política e religião.

Esses temas, apenas plantados em O Homem de Aço, são colocados em prática.

SupermanBatman

Na minissérie Batman – O Cavaleiro das Trevas, de 1986, o autor Frank Miller criou passagens nas quais programas de televisão e telejornais discutem sobre as ações do Morcego. O mesmo é feito aqui, mas focando no Superman e nas repercussões e análises causadas em todo o mundo a cada aparição dele.

A produção chega a usar famosos analistas políticos, cientistas e jornalistas para reforçar o impacto das mensagens.

O mesmo acontece em outras esferas da sociedade. Políticos estão preocupados e iniciam vários debates sobre o tema, inclusive convocando o herói ao Capitólio dos Estados Unidos, para prestar esclarecimentos, numa sequência com desfecho surpreendente.

No meio de toda essa superexposição, Clark Kent começa a ter dúvidas sobre seu verdadeiro papel no mundo.

E se os fãs estavam preocupados em ver o Batman se sobressair em detrimento do Superman, isso não acontece. O Último Filho de Krypton é a força motriz da trama e os personagens coadjuvantes são praticamente todos de sua mitologia. A julgar pelo final, ele terá também grande destaque em Liga da Justiça.

Mas, claro, Batman tem bastante tempo de tela, uma vez que um personagem tão importante precisava ser reapresentado nesta nova versão. Assim, se vê novamente a origem, com o assassinato dos pais, pequenas dicas sobre sua carreira de combate ao crime e como tudo isso o tornou um homem mais cínico e violento. A sua aparição inicial lembra um filme de terror.

Mulher-MaravilhaLois Lane

Como se não bastasse os dois heróis se enfrentarem, outra ligação é feita pelo roteiro. A boa sacada de usar a similaridade nos nomes das mães dos personagens – Martha Kent e Martha Wayne – tem grande importância.

Infelizmente, no final das contas, o embate entre ambos acabou sendo curto depois de tanta expectativa.

O mordomo Alfred Pennyworth é o único outro personagem ligado ao Cavaleiro das Trevas a aparecer, numa versão um pouco diferente das anteriores. Aqui, ele ajuda a desenvolver equipamentos e colabora com missões. Normalmente em tom sarcástico, tenta ser a voz da razão para a conturbada mente de Bruce.

Já Lex Luthor tem participação decisiva ao manipular os acontecimentos que levarão ao confronto dos dois heróis, além da criação do monstro Apocalypse. Esta reimaginação do vilão, interpretada por Jesse Eisenberg, é bastante diferente do que foi visto anteriormente e também das encarnações dos quadrinhos.

Enquanto o ator tem um bom desempenho no papel que lhe foi dado, talvez cause estranheza, principalmente dos fãs de quadrinhos, por misturar elementos do homem de negócios com o cientista maluco, acompanhado por uma personalidade psicótica e desequilibrada que às vezes parece a do Coringa.

Entretanto, é interessante ver como Luthor estava consciente da existência de outros meta-humanos e pesquisava sobre o assunto, um passo à frente de todos os outros, inclusive Batman, cego pela sua obsessão pelo Superman.

Lex LuthorAlfred Pennyworth

Os outros meta-humanos mencionados são Mulher-Maravilha, Flash, Aquaman e Cyborg. Enquanto os dois últimos têm rápidas aparições, o Flash surge numa segunda cena, que lembra muito uma passagem similar da saga Crise nas Infinitas Terras, para entregar um recado ao Batman.

A Mulher-Maravilha, entretanto, tem uma participação maior, e a atriz Gal Gadot convence sempre que está em cena.

Todo o elenco, aliás, tem boas performances. Principalmente Ben Affleck, que se provou capaz de viver o personagem tanto como Bruce Wayne quanto Batman, mostrando que as reações explosivas ao seu anúncio no elenco na internet foram exageradas.

Outras passagens que merecem citações são as referências ao vilão Darkseid e à Caixa Materna (uma espécie de computador vivo), famoso artefato do Universo DC usado também pelos Novos Deuses. Os dois serão importantes em futuros filmes.

Batman vs. Superman - A origem da justiça

Enfim, há muita coisa que o longa-metragem tanta abordar. E ao acomodar tudo isso, mesmo em duas horas e meia de projeção, é que os problemas começam.

O filme é desequilibrado na maneira em que foi montado, e transições de cenas são abruptas, causando incômodos cortes que prejudicam a fluidez da narrativa. É como se fossem dois filmes em um, sendo que a primeira parte é lenta e introspectiva, e a última é um festival de lutas e efeitos especiais.

Os dois elementos poderiam ter sido mesclados de maneira melhor, o que tornaria a experiência mais agradável para o espectador. A trama aborda questões muito interessantes, mas as entrega de maneira desorganizada.

A luta contra Apocalypse, embora empolgante, por ver a Trindade reunida na telona, é confusa e cansativa, com um excesso de explosões de energia emitidas pelo vilão.

Por fim, foi decepcionante ver que a destruição de Metrópolis e a morte do General Zod pelas mãos do Superman não foram exploradas pelo ponto de vista do kryptoniano, e como os dois acontecimentos o afetaram. Foi uma oportunidade desperdiçada, e que só acrescentaria no desenvolvimento e amadurecimento do personagem.

Batman vs. Superman – A origem da Justiça ainda apresenta passagens de histórias famosas dos quadrinhos (algumas não foram abordadas aqui por causa de spoilers, mas fique atento ao próximo episódio do podcast Confins do Universo, no qual o filme será debatido em detalhes).

Batman vs. Superman – A origem da justiça
Duração: 151 minutos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio e David S. Goyer
Elenco: Henry Cavill, Ben Affleck, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Gal Gadot, Diane Lane, Laurence Fishburne, Jeremy Irons, Holly Hunter, Scoot McNairy, Harry Lennix, Tao Okamoto e Callan Mulvey, Jeffrey Dean Morgan, Lauren Cohan, Kevin Costner, Ezra Miller, Jason Momoa e Ray Fisher.

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