Resenha: Guerra Civil é o ápice dos filmes da Marvel
Há oito anos, a Marvel Studios lançou o filme Homem de Ferro (2008) e deu início a um ambicioso projeto de criar um universo cinematográfico compartilhado com seus super-heróis, que culminaria com o encontro de todos eles em um longa-metragem.
Apesar de não contar com algumas franquias famosas, como X-Men, Quarteto Fantástico, Demolidor e Homem-Aranha – cujos direitos foram cedidos para outros estúdios durante uma grave crise financeira na década de 1990, levando a editora a pedir concordata –, alguns dos mais tradicionais heróis ainda estavam disponíveis, especialmente os do núcleo que formava os Vingadores.
E assim foi feito.
Um a um, os projetos foram sucessos em maior ou menor grau, ganhando a confiança do público, estabelecendo o estúdio numa posição respeitável dentro de Hollywood e culminando com sua aquisição pela The Walt Disney Company. Recordes de bilheterias e euforia dos fãs eram justificáveis, ainda que por vezes mascarassem filmes medianos.
Durante esse tempo, o estúdio seguiu uma fórmula que estava dando certo: histórias voltadas para toda a família, boas doses de humor e muita aventura. Mas até quando produções similares continuariam a ser relevantes antes de sofrer um desgaste natural?
Poucas eram as tentativas de se diferenciar, mesmo com personagens por vezes inusitados, sendo uma das mais notáveis ocorridas em Capitão América – Soldado Invernal (2014). E quem diria que seria justamente a série do Sentinela da Liberdade a mais sólida e interessante da Marvel?
Em Capitão América – Guerra Civil, uma espécie de continuação da franquia dos Vingadores, os integrantes do grupo estão pressionados por causa dos efeitos colaterais causados em suas ações e se veem numa encruzilhada: ou passam a ser supervisionados pela ONU, numa ação conjunta de diversos países, ou encerram suas atividades heroicas. Opiniões diferentes causam uma divisão na equipe e, para piorar, o Soldado Invernal é envolvido em um atentado terrorista, o que os coloca em rota de colisão uns contra os outros.
E é aí que que o Universo Marvel Cinematográfico dá um salto importante e necessário não só tematicamente, mas também para se revigorar e se fortalecer.
Pela primeira vez, 12 filmes após o início desta jornada, os realizadores se propõem a analisar a existência de super-humanos e as consequências de suas ações.
Nada de lutar contra uma invasão alienígena, ter a cidade destruída e sair para comer sanduíches. Não, a trama aborda a percepção de civis, líderes mundiais e dos próprios heróis sobre suas atividades, responsabilidades e ideais defendidos.
Capitão América (Chris Evans) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) são os expoentes de duas opiniões divergentes e polarizam a discussão. Mais do que mostrar um lado como o certo e o outro errado, questões interessantes são levantadas e tornam ambas as argumentações válidas, reforçando a discussão do tema.
Retornam Falcão, Feiticeira Escarlate, Soldado Invernal, Homem-Formiga e Gavião Arqueiro para apoiar Steve Rogers. Contra eles estão Viúva Negra, Máquina de Combate e Visão para ajudar Tony Stark, além dos estreantes Pantera Negra e Homem-Aranha.
Pantera Negra desempenha papel mais ativo na trama, enquanto o Homem-Aranha é introduzido tempo o suficiente para não inchar e atrapalhar a narrativa, mas ainda ser um dos destaques na principal cena de ação do longa e mostrar potencial para o terceiro (!) reboot dos filmes solos.
Ele é um dos alívios cômicos, junto com o Homem-Formiga. A diversão fica a cargo desses dois, como deveria ser, enquanto temos um Tony Stark envolvido em situações mais sérias para não desvirtuar a gravidade das discussões propostas.
Tudo isso mesclado com muita ação, reviravoltas e efeitos especiais que dão vida aos personagens.
Após tantos filmes juntos, o elenco principal está afinado e as atuações se sobressaem com o roteiro bem trabalhado de Christopher Markus e Stephen McFeely, além do comando competente dos diretores Anthony e Joe Russo.
Os dois irmãos, anteriormente conhecidos por filmes e séries de televisão de comédia, como Arrested Development (2003-2005), Dois é Bom, Três é Demais (2006) e Community (2009-2011), provam que nem sempre a primeira impressão é a verdadeira e é justamente em suas mãos que o UMC amadurece.
Após Soldado Invernal e Guerra Civil, eles comandarão também Vingadores – Guerra Infinita Parte 1 (2018) e Parte 2 (2019), nos quais os heróis finalmente enfrentarão Thanos. A esta altura, já provaram estar mais do que gabaritados para a tarefa.
O longa-metragem atualmente nos cinemas é obviamente inspirado em grande parte na saga de quadrinhos de mesmo nome, lançada em 2006 pelo escritor Mark Millar e o desenhista Steve McNiven (leia um review da graphic novel aqui). Mas trata-se mais de uma inspiração temática do que narrativa e inclui na mistura outras fases, como a do roteirista Ed Brubaker nas revistas do Capitão.
Capitão América – Guerra Civil culmina na mais sólida empreitada da Marvel nos cinemas, novamente aumentando o nível dos filmes de super-heróis e trazendo mais desafios e responsabilidades não só para os concorrentes, mas para si mesma.
E, afinal, não é isso que todos os fãs querem?
Capitão América – Guerra Civil
Duração: 147 minutos
Estúdios: Marvel Studios
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely
Elenco: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Don Cheadle, Jeremy Renner, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Paul Rudd, Emily VanCamp, Tom Holland, Daniel Brühl, Marisa Tomei, John Kani, John Slattery, Martin Freeman, William Hurt, Alfre Woodard e Frank Grillo.