X-Men 2 é a evolução das adaptações de quadrinhos
Um filme baseado em quadrinhos deve cumprir três quesitos bastante distintos: tem que ser fiel ao material original (ou cairá na ira dos leitores), deve funcionar como espetáculo de cinema, e precisa interessar não só aos leitores de HQ, mas também ao público em geral.
X-Men 2 é uma das melhores transposições já feitas das páginas dos quadrinhos para o cinema, embora não seja a adaptação mais fiel, que provavelmente continua a ser Rocketeer ou o primeiro Super-Homem.
A película funciona maravilhosamente como espetáculo de cinema, com um roteiro bem amarrado, que surpreende aos leitores, e deve agradar bastante o público que curtiu o primeiro filme, afinal, este segundo episódio é muito superior.
X-Men 2 se beneficia do fato de já ter explicado quem são os personagens no primeiro filme. Agora, o público já sabe quem são os mutantes e conhece seus dilemas. Por isso, a história tem liberdade para explorar os outros aspectos dos personagens e, assim, acaba surpreendendo.
O filme começa numa ótima seqüência de ação, que introduz Noturno (Alan Cummings). Retoma temas deixados de lado no episódio anterior, como Wolverine (Hugh Jackman) em busca de seu passado visitando a base Alkali (que corresponde ao projeto Arma X dos quadrinhos) e Mística (Rebecca Romijn-Stamos) se passando pelo falecido senador Robert Kelly (Bruce Davidson).
Um ataque ao presidente americano acaba por resultar em ações drásticas contra os mutantes, levadas adiante pelo general William Stryker. Isto resultará num envolvimento de Mística e Magneto (Ian McKellen), ainda preso em sua cela de plástico, com os X-Men.
X2 é muito mais sombrio que o anterior, com cenas mais fortes. Wolverine, por exemplo, está detonando, como nos quadrinhos, violento e selvagem.
O triângulo amoroso entre Ciclope (James Marsden), Jean Grey (Famke Janssen) e Wolverine também recebe maior atenção. Jean ganha mais destaque e é uma das surpresas do filme. Ciclope, entretanto, continua longe de ser o mesmo dos quadrinhos, com participação pequena.
Existem dois fatores que contribuem para isso. O primeiro é que seu papel nas HQs hoje em dia está diluído. Ele não é mais mostrado como o grande líder de equipe, o que se viu no passado na revista New X-Men, e nem mesmo na Ultimate X-Men ele faz este papel. Além disso, ambas as revistas exploram mais o personagem Wolverine e o triângulo amoroso com Jean. O segundo fator é que James Marsden, como ator, está longe do cacife dos outros atores nos papéis principais.
O Professor Xavier (Patrick Stewart) continua sendo um dos parâmetros morais desta guerra que envolve humanos e mutantes, e por isso, é uma peça fundamental para a vitória de qualquer um dos lados.
Vampira (Anna Paquin) tem um papel menor, mas não menos interessante, e o filme explora seu relacionamento com o Homem-de-Gelo além do papel dos jovens dentro dos X-Men.
Tempestade (Halle Berry) está mais agressiva, e usa seus poderes de maneira genial durante o filme.
Magneto, na pele de Ian McKellen, está perfeito, misturando com habilidade os valores do personagem e sua vilania. Aliás, o mestre do magnetismo é responsável por bons momentos da aventura.
Mística é outra personagem que está espetacular, ganhando mais tempo de filme e, inclusive, sendo mostrada com a aparência verdadeira da atriz, quando tenta seduzir um guarda. Numa de suas melhores cenas, a metamorfa de pele azulada engana Wolverine, durante uma das poucas pausas na ação do filme. É puro gibi!
Vamos aos outros personagens:
Noturno (Nightcrawler): Alan Cummings está ótimo no papel de Noturno e seu aspecto visual é muito próximo ao dos quadrinhos. As cicatrizes adicionadas a ele (e as explicações para as mesmas) são muito interessantes. Os efeitos especiais de "teleporte" estão ótimos. O personagem, de certa forma, usa elementos desenvolvidos na linha Ultimate X-Men.
Homem-de-Gelo (Iceman): Shawn Ashmore reprisa seu papel como o jovem Bobby Drake. O personagem ganhou bastante espaço na trama, dando continuidade a alguns eventos iniciados no filme anterior. Ele tem algumas oportunidades para usar seus poderes e os efeitos estão bons. Tanto a linha tradicional de X-Men, quanto nas revistas da linhaUltimate, vêm explorando argumentos com a família de Bobby Drake. O filme não é exceção.
Piro (Pyro): Faz um contraponto ao Homem-de-Gelo e Vampira. Interpretado por Aaron Standford, que assumiu o lugar de Alex Burton (do primeiro X-Men) como Piro, tem uma atuação importante e um papel que sugere a possibilidade de retorno em possíveis continuações da série.
Para quem não sabe (ou não se recorda) Piro surgiu nos quadrinhos durante a aclamada saga Dias de um Futuro Esquecido (Days of Future Present), de Chris Claremont e John Byrne, como membro da Nova Irmandade de Mutantes, comandada por Mística.
Colossus: No primeiro X-Men, ele já havia dado as caras, como um garoto que desenha durante a apresentação da escola e dos estudantes. Uma ponta rápida, destinada apenas aos fãs de carteirinha, que estavam observando atentamente. Em X-Men 2 ele retorna de maneira clara, em duas cenas, uma ainda explorando o seu lado de artista (que é importante para o personagem) e outra, em sua forma blindada, que vai deixar os fãs pedindo por muito mais. Daniel Cudmore interpreta o mutante russo. É preciso dizer que a semelhança física com o personagem das HQs é impressionante.
Kitty Pryde/Lince Negra (Shadowcat): Em X-Men, a personagem havia sido interpretada por Sumela Kay, numa cena onde ela atravessa uma parede da Mansão, na frente de Wolverine. Neste episódio, é Katie Stuart que assume o papel da jovem mutante capaz de atravessar paredes e pessoas. Apesar de parecer mais jovem que a atriz anterior, ela é na verdade um ano mais velha.
Ainda não foi neste filme que Kitty ganhou uma participação definitiva. Sua presença se resume ao uso de seus poderes numa cena divertida, durante um momento tenso do filme.
Syrin: A jovem atriz Shauna Kain interpreta Theresa Cassidy, a filha de Banshee, um dos membros dos X-Men nos quadrinhos. Como Colossus e Kitty, sua participação é pequena. Nos quadrinhos Syrin fez parte das equipes dos Novos Mutantes e da X-Force.
William Stryker: É na verdade uma mistura de personagens. Ele foi inspirado no reverendo Stryker dagraphic novel Conflito de uma Raça(God Love, Men Kills) e mesclado à trama do projeto Arma X. O resultado é muito bom. O filme ganha um vilão de peso, com implicações mais psicológicas e conceituais. É um humano que odeia mutantes, um tema bastante comum nas revistas dos X-Men.
No papel de Stryker está o ótimo escocês Brian Cox, que já fez os mais diversos papéis, inclusive de Hannibal Lecter, em Manhunter, a primeira adaptação de Red Dragon (Dragão Vermelho).
Yuriko Oyama/Lady Letal (Lady Deathstrike):Nos quadrinhos é um daqueles personagens cujas origens estão imersas numa verdadeira mistura de revistas e autores. Daredevil, Alpha Flight, X-Men: todas estas revistas tiveram muita importância na criação de Lady Letal, que ficou imortalizada no traço de Barry Windsor-Smith em X-Men #205 a qual garantiu seu lugar no panteão dos grandes inimigos de Wolverine. No cinema, sua origem foi modificada, sugerindo que ela foi parte do projeto Arma X, assim como Wolverine (algo que nos quadrinhos era reservado ao Dentes-de-Sabre, que participou do primeiro filme e não teve chances neste episódio).
Apesar das mudanças, ela está fantástica, impiedosa e letal como afirma seu nome. Se Stryker é o grande inimigo dos X-Men, Yuriko é a grande ameaça a Wolverine. O combate entre ambos é sensacional e mais violento do que os fãs poderiam esperar. Muito superior ao decepcionante confronto entre Wolverine e Dentes-de-Sabre no primeiro episódio.
Yuriko é interpretada por Kelly Hu, a bela atriz havaiana que já havia se destacado no filme Rei Escorpião(The Scorpion King) e também está em Contra o Tempo (Cradle 2 the Grave), ao lado de Jet Li.
Jason 143: Esta foi uma interessante modificação em relação aos quadrinhos. Jason é ninguém menos que Jason Wyngarde, o Mestre Mental, que nas HQs já pertenceu tanto à Irmandade de Mutantes quanto ao Clube do Inferno. Aqui, sua presença está ligada a Stryker.
Gambit, Fera, Jubileu e outros: Jubileu (interpretada por Kea Wong) aparece em algumas cenas, mas não faz nenhum uso de seus poderes. A personagem também já havia sido vista no primeiro filme, mas com outra atriz, Katrina Florece, no papel.
O Fera (Beast): Steve Bacic aparece apenas numa ponta, na televisão, como o Dr. Henry McCoy. Aliás, segundo o site imdb.com, também está creditado com uma participação o ator Charles Siegel, como Dr. Sebastian Shaw (do Clube do Inferno), mas que foi cortada na montagem final.
Gambit (Remy LeBeau), Karma (Xian Coy Mahn) e o Homem-Múltiplo (Jamie Madrox) não aparecem, mas têm seus nomes verdadeiros listados num computador, numa cena rapidíssima.
Gambit seria interpretado por James Bamford, que trabalhava como dublê de Wolverine nos ensaios de ação (e se machucou levemente durante um ensaio), e teria sido escolhido pelo próprio Bryan Singer por sua semelhança física com o personagem. Fez sua cena em um único dia, numa ponta, mas que foi cortada da montagem final.
O resultado final é uma continuação muito superior ao filme original, que fez um uso excelente de seu orçamento mais polpudo, e que surpreende principalmente pela boa história, que deve agradar aos fãs e também ao público que não acompanha quadrinhos.
X-Men 2 é dirigido por Bryan Singer, que além de ter sido o responsável pelo primeiroX-Men, dirigiu o maravilhoso Os Suspeitos, devendo estrear em 450 salas por todo o Brasil, no feriado de 1° de maio.
Para os outros estúdios, fica a dica, é assim que se faz um filme adaptado dos quadrinhos. Resultado: um programa imperdível.
X-Men 2
Duração: 130 minutos
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Michael Dougherty e Daniel P. Harris
Elenco: Patrick Stewart, Hugh Jackman, Ian McKellen, Halle Berry, Famke Jansse, James Marsden, Rebecca Romijn-Stamo, Brian Cox, Alan Cumming, Bruce Davison, Anna Paquin, Kelly Hu, Aaron Stanford, Katie Stuart, Michael Reid MacKay.
Nota