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Filmes

Crítica Turma da Mônica – Lições: mais de 60 anos, e a Turminha continua dando aula

13 dezembro 2021

Na CCXP de 2015, Mauricio de Sousa se emocionou com o anúncio da primeira produção em live action da sua primordial criação, a Turma da Mônica. Laços (ouça aqui o Confins do Universo sobre a produção) estreou em 2019 com grande sucesso, quadriplicando o valor gasto em sua produção e possibilitando a esperada e bem-vinda sequência, Turma da Mônica – Lições. A pandemia do Covid-19 causou diversos adiamentos, mas finalmente o filme estreia nos cinemas brasileiros em 30 de dezembro de 2021.

Conhecida por alguns fãs como a “trilogia do L Ç plural”, as HQs dos personagens assinadas pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi receberam inúmeros – e merecidos – elogios. Aproveitando a proposta do selo Graphic MSP de trazer uma abordagem diferenciada aos famosos personagens de Mauricio, os dois entregaram um tratamento amadurecido, que apela a um público mais velho com deliciosa nostalgia, ao mesmo tempo que tem material de qualidade de sobra para conquistar novos leitores para o universo mauriciano.

Esse material brilhava com a capacidade de ser transportado para a sétima arte, e o time criativo responsável pela boa adaptação de Laços voltou para, incrivelmente, entregar um trabalho ainda melhor.

A trama gira em volta da súbita decisão dos pais da Mônica (Giulia Benite) em mudá-la de escola, após um desastroso plano infalível que resultou em um braço quebrado. Longe de seus amigos próximos, ela precisa encontrar forças – além da física – para navegar o novo ambiente, que não é desprovido de hostilidades.

Por outro lado, Cebolinha (Kevin Vechiatto) e Cascão (Gabriel Moreira) são vítimas de bullying, agora que não tem a amiga para protegê-los; e Magali (Laura Rauseo) se sente perdida e solitária sem a presença da melhor amiga.

A direção de Daniel Rezende está afiadíssima. Se valendo do bom roteiro de Thiago Dottori e Mariana Zatz, consegue usar humor e leveza para construir drama, resultando numa obra que é profunda, mas nunca pesada. Pequenos momentos, como a Mônica puxar o Sansão para perto de si quando ouve uma notícia triste, e Magali fugindo de uma nova amizade em potencial para comer são amostras do minucioso cuidado em encontrar o equilíbrio certo entre emoção e comédia.

Aliás, como o filme brilha na comédia! São dezenas de gags com timing preciso – o primeiro diálogo entre Cebolinha e Humberto é maravilhosamente cômico – e ótimas sacadas cinematográficas, com direito a, até mesmo, impasses mexicanos com notas de faroeste.

E é o humor que serve de porta de entrada para, bem, as lições que devem ser aprendidas. Um grande acerto foi usar as peculiaridades de cada personagem como metáforas para questões psicológicas. Magali é um exemplo certeiro. O que começa com cenas dela sempre perguntando se vai ter algo para comer leva a uma gradual queda de ficha de que seus impulsos alimentares não vêm apenas de fome, mas do fato de que a menina está descontando ansiedade em comida. Quem nunca comeu por estresse que atire a primeira pedra.

Aliás, a melhora do trabalho do quarteto principal é visível. Ainda mais carismáticos e confortáveis em frente às câmeras, começam a sair de seus casulos artísticos e se revelam ótimas promessas para o futuro. As interações entre eles são cheias de química e vivacidade, e é fácil acreditar que são amigos de longa data.

Quem acompanhou o material de divulgação sabe que vários personagens criados por Mauricio de Sousa aparecem no filme. Tina, Rolo, Humberto, Marina, Milena, Do Contra... era tanta gente que a preocupação de que seriam aparições gratuitas em easter eggs baratos era inevitável. Todavia, ao subir dos créditos (que contém uma cena imperdível logo em seu início), uma das sensações é a de surpresa, pois a adição de tantas pessoas que nem sequer aparecem na graphic novel original resultou em personalidades distintas e bem apresentadas em papéis competentemente inseridos na trama.

Para quem conhece diferentes personagens da Turminha, cada aparição traz um sorriso ao rosto. Aliás, Do Contra é hilário. Exemplo do roteiro que explora, ilustra e realça as excentricidades e individualidades de cada um.

Tanto na HQ como no filme, há uma adaptação de Romeu e Julieta que os personagens tentam montar. A atemporal obra de amor de Shakespeare encaixa como espelho narrativo para o que eles precisam encarar na vida real. É um artifício bem utilizado em um texto fluído e coeso, fazendo com que as cenas se intercalem de forma a conversarem entre si, tocando as notas emocionais reciprocamente.

Lições é sobre os inúmeros obstáculos que a vida apresenta. É sobre o que precisamos aprender e como nos adaptar para seguir em frente. É celebrar as mudanças da vida sem ignorar a importância do passado, destacando que as experiências vividas com pessoas queridas são pontos vitais do processo de amadurecimento. São fontes de força, motivação, conforto e apoio. Afinal, “a gente pode crescer sem deixar de ser criança”.

O longa-metragem adapta a história de amadurecimento proposta pela HQ fazendo bom uso da transição de mídias para realçar as jornadas dos personagens. Com elenco cativante e mais à vontade; direção inspirada; equilíbrio entre leveza, humor, drama e profundidade; e mensagens atemporais; Turma da Mônica – Lições é uma adaptação feita com tanto carinho e respeito pelo material original, que até consegue recriar a capa da HQ com todo o peso dramático que o momento pede. Não há dúvidas de que muita gente vai sair do cinema com os dois polegares para cima.

Turma da Mônica – Lições
Duração: 97 minutos
Estúdio: Paris Filmes
Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Thiago Dottori, Mariana Zatz
Elenco: Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo, Gabriel Moreira, Malu Mader, Isabelle Drummond, Paulo Vilhena, Vinícius Hugo, Fernando Mais, Camila Brandão, Laís Villela, Emilly Nayara, Lucas Infante, Gustavo Merighi, Rodrigo Kenji, Giovani Donato, Monica Iozzi, Luiz Pacini, Fafá Rennó, Angélica di Paula, Adriano Paixão, Ana Carolina Godoy, Tiago Minski Schmitt, Marcos Felipe Bojar, Vitor Queiroz, Vitor Cafaggi, Sidney Gusman, Mônica Sousa, Mauricio de Sousa

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