Flash Gordon: 35 anos de um cult (trash) movie
Com seu visual retrô e figurino para lá de brega, o filme Flash Gordon foi lançado em 1980 e hoje é um clássico que se tornou objeto de adoração entre cinéfilos de todo o mundo, apesar de muita gente ainda torcer o nariz para essa produção.
Nos Estados Unidos, há convenções anuais em que os fãs (antigos e novos) trocam as mesmas ideias e informações, além de prestarem reverência aos atores que não deixam de comparecer às homenagens.
No Brasil, o longa-metragem só estreou em janeiro de 1981, dando início a uma flashmania como nunca se vira em outros tempos. Álbuns de figurinhas, brinquedos, chicletes, pirulitos, sorvetes, camisetas estampando o inconfundível nome em vermelho, máquinas de fliperama e republicações de quadrinhos clássicos do personagem invadiram o mercado.
Tudo em torno de uma produção que conseguia ser, ao mesmo tempo, ridícula e fantástica, cujo orçamento atingiu a impressionante marca - para a época - de 35 milhões de dólares e, curiosamente, não alcançou sucesso de bilheteria.
O ator Sam J. Jones, cuja primeira aparição na mídia havia sido anos antes, em uma revista pornô gay, serviu como uma luva para o papel do aventureiro intergaláctico. Mas as beldades Melody Anderson, fazendo o papel de Dale Arden, e Ornella Muti, interpretando a Princesa Aura, deram o toque de sensualidade que apimentou a trama simples, mas eficaz, de Flash Gordon, que inclui muita ação, alianças rebeldes, batalhas no céu, conspirações, romance e, claro, piadinhas infames. Tudo emoldurado por efeitos especiais de fazer rir e cenários que mais parecem painéis pintados com tinta guache.
Flash Gordon ainda contou com a participação do ator Timothy Dalton, que anos mais tarde, em 1987, substituiria Roger Moore no papel de James Bond na série cinematográfica 007. E como costuma acontecer em filmes baseados em heróis dos quadrinhos, neste o vilão também roubou as cenas, graças à interpretação irretocável de Max von Sydow na pele do Imperador Ming.
Mas por que o filme se tornou assim tão atraente, a ponto de ser considerado um cult movie? Em primeiro lugar, porque ele é pura diversão. É engraçado quando quer e até nos momentos em que não pretende ser. Além disso, é uma das mais fiéis adaptações de um personagem de histórias em quadrinhos para a tela grande.
Criado em 1934 pelo cartunista Alex Raymond, o herói Flash Gordon transformou-se em um sucesso mundial com suas tiras diárias publicadas em centenas de jornais. Nos anos seguintes, vieram novelas de rádio, seriados para as matinês de cinema e romances literários.
Em 1980, toda aquela estética que Raymond colocava nos quadrinhos e parecia ser avançada nos anos 1930 foi conservada em cada detalhe do filme. Trocando em miúdos, a ideia era recriar toda a atmosfera das tiras e gibis, com roupas carnavalescas, cores berrantes e futurismo ingênuo (traduzido, principalmente, nos artefatos tecnológicos risíveis).
Outro motivo para fazer valer a pena assistir ao filme é a sensacional trilha sonora, composta e gravada pela banda inglesa Queen no auge do sucesso. Na abertura do filme, páginas dos quadrinhos do campeão do planeta Mongo são folheadas em um ritmo alucinante, acompanhadas do petardo musical Flash's Theme e de um pegajoso refrão.
A música, que tocou à exaustão nas rádios naquele ano, faz parte de um dos melhores discos da turma de Freddie Mercury. Nas 16 faixas, ainda há trechos do filme, incluindo sons de batalha e falas dos personagens intercalando as canções, com destaque para o rock visceral Football fight, tocada durante uma das cenas mais memoráveis do longa-metragem: aquela em que uma partida de futebol americano é inadvertidamente simulada no salão imperial de Ming, sob o olhar incrédulo do vilão.
O filme
“Klytus, estou entediado...”. Com essa afirmação do imperador Ming ao seu fiel auxiliar, tem início a ópera espacial de 110 minutos de duração, produzida por Dino de Laurentis, dirigida por Mike Hodges e com roteiro de Michael Allin e Lorenzo Semple Jr., sobre texto original de Alex Raymond.
Acontecimentos estranhos, como furacões, maremotos, chuvas de meteoros e outros cataclismos estão assolando a Terra numa frequência fora do comum e apenas o cientista Hans Zarkov tem a certeza de que tudo isso é fruto de uma influência alienígena.
Depois de um encontro acidental com Flash Gordon e Dale Arden (futura namorada do herói), Zarkov os obriga a se juntar a ele na arriscada viagem ao espaço para salvar a Terra.
Capturados por Ming, começa uma grande aventura repleta de ação, alianças rebeldes, batalhas no céu, conspirações, sensualidade, romance e, claro, piadinhas infames. Isso tudo com um gostinho de nostalgia que só aumentou com o passar dos anos.
No meio desse caldo, as dezenas de furos que fazem a festa dos detratores, mas que são relevados por quem, na época, saiu da sala de cinema com os olhos ainda vidrados. A mais frequente das questões, porém, continua sem resposta: Como é possível os habitantes de Mongo falarem e escreverem em inglês?
Dirigir e adaptar o longa-metragem Flash Gordon para o cinema era um desejo antigo do cineasta George Lucas, que em 1974 se ofereceu para encabeçar o projeto. Entretanto, o produtor Dino de Laurentis, então detentor dos direitos cinematográficos sobre o herói espacial, descartou o jovem diretor. Anos depois, foi Mike Hodges que dirigiu o filme.
O resto é uma história que pode ser conferida no DVD do longa-metragem, cuja última edição, nos Estados Unidos, teve a capa ilustrada por Alex Ross e incluiu cenas cortadas e muitos extras.
Uma diversão bastante recomendada para saudosistas.
Flash Gordon
Duração: 111 minutos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Mike Hodges
Roteiro: Lorenzo Semple Jr.
Elenco: Sam J. Jones, Melody Anderson, Max von Sydow, Ornella Muti, Timothy Dalton, Brian Blessed, Peter Wyngarde, Chain Topol e Mariangela Melato.