Minions: divertido, sim; engraçadíssimo, não
Acontece muitas vezes, em produções de audiovisual, de o coadjuvante chamar mais atenção do que o personagem principal. Um bom exemplo é Minions, um spin-off da série Meu Malvado Favorito. Como Chris Meledandri, o produtor do longa-metragem, disse: “Não planejamos dar aos Minions seu próprio filme. Eles exigiram!”
Não era surpresa que aqueles seres atrapalhados, com um design que já arrancava algumas risadas e uma linguagem engraçada, ganhariam um longa. Durante os últimos cinco anos, foram lançados vários curtas protagonizados por eles na internet. O pote de ouro estava bem ali, no final do arco-íris.
Dirigido por Kyle Balda, de O Lorax – Em busca da Trúfula Perdida, e Pierre Coffin, de Meu Malvado Favorito 1 e 2, o filme, que estreia hoje no Brasil, é divertido, cheio de referências e recomendado para toda a família.
Ou seja, a criançada vai se divertir com a animação boba-alegre, enquanto o adulto pegará aquelas piadinhas (não tão) sutis e rir também do humor leve. Afinal, os minions são subversivamente doces.
Como Meledandri afirmou: “Eles não são apenas adoráveis. São muito interessantes, por conta dessa contradição entre seu desejo de serem maus e sua natureza essencial que os faz tão bons. Todos nós temos esses lados conflitantes.”.
O que “pega” em Minions é a sensação de que toda cena vai ser épica e muito cômica (afinal, são aqueles bichos amarelos de risada insana), porém tudo ficar apenas no divertido.
Nada que deixe o filme ruim, mas não é o evento mais brincalhão e insano de 2015. Sim, há momentos icônicos, mas eles passam uma sensação de que Minions é uma colagem de vários daqueles curtinhas que provocavam uma risadinha, e pronto. Adiciona novos personagens, uma história, contexto e voilá.
O mote é mostrar como os minions chegaram até Gru, o malvado favorito e mestre deles. Ou seja, é uma prequela. Bem do início mesmo. Desde o surgimento do organismo unicelular amarelo, lembrando muito o jogo Spore (da EA Games, de 2008), até chegar a Napoleão Bonaparte.
Tudo com uma narrativa digna de um documentário da National Geographic, sempre atrás de um mestre, aquele que seria o mais forte e perverso. Contudo, nenhum desses consegue sobreviver a um minion. E esta é a causa da depressão deles, pois, sem um líder, não há um objetivo de vida.
E quando Kevin tem a ideia de desbravar o mundo até achar alguém mau o bastante, que valha a pena ser seguido. E, para ajudar, Stuart e Bob o seguem.
Eles terminam por formar uma família: Kevin é o irmão mais velho, com traços heroicos, o cabeça. Stuart é o do meio, o adolescente meio rebelde, relaxado, que adora rock’n’roll e tirar um som da sua superukulele, ou seja, sua guitarra. Bob é o caçula que adora todo mundo e o mais fofo, lembrando um pouco Agnes, de Meu Malvado Favorito.
Nessa empreitada, os garotos param na Nova York dos anos 1960, com prédios altos e muito movimento; depois Orlando, onde acontecia a Villain-Con, um evento só de vilões. E o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon estava presente!
É lá que a trupe acha seu novo mestre. Melhor dizendo, nova. Afinal, a vilã do longa é Scarlett Overkill (Adriana Esteves/Sandra Bullock). Nada mais simbólico para uma história que se passa na revolucionária década de 1960, em que a mulher começou a conquistar independência. E ela é, literalmente, a mais poderosa. De ambos os gêneros.
Scarlett Overkill é má, briguenta e vive irritada. Uma Rainha de Copas. Tem o apoio do seu marido, Herb Overkill (Vladimir Brichta/Jon Hamm), que adota seu sobrenome e trabalha como seu inventor pessoal de gadgets. O plano maligno dela Scarlett é roubar a coroa da Rainha Elisabeth e, enfim, tornar-se rainha da Inglaterra. Para isso, vai contar com a ajuda dos minions, o que nem sempre é algo realmente produtivo.
Assim, a trama se desloca para Londres, com todo o charme retrô futurístico da cidade e à base de muito rock’n’roll. E vale ressaltar que a trilha sonora é um dos pontos altos do filme. Tem The Doors, The Beatles, The Who, Jimi Hendrix, The Turtles, The Kinks, Aerosmith e muitos outros.
Aliás, vale mencionar a música-tema, Yellow Mellow, do escocês Donovan, que fez bastante sucesso, tanto nos EUA, quanto no Reino Unido, entre 1966 e 1967, mesmo com uma letra nada óbvia. O autor chegou a explicá-la, dizendo ser cool, sem preocupações e vibradores (!).
Infelizmente para o público brasileiro, foi escolhido pela Universal o cantor Michel Teló para fazer uma versão da música. E a letra diz: “vivemos unidos, mais que amigos, somos irmãos. Nós somos amarelos”...
Tudo isso para contar como a trupe amarela chega até Gru, que aparece aos 44 do segundo tempo. E é amor à primeira vista. Claro que o filme deixa o gancho para mostrar o crescimento dessa parceria. Ou seja, além de Meu Malvado Favorito 3, existe a chance de pintar um Minions 2, se este longa inicial for bem-sucedido nos cinemas.
Uma curiosidade da produção é a língua dos Minions, que, na realidade, não existe. Ela é salpicada por palavras aleatórias de outros idiomas, levando mais em consideração a sonoridade do que o significado. Existe um pouco de chinês, indiano, espanhol, italiano, indonésio e japonês, além do inglês.
Os minions falam assim, pois aprenderam o básico do egípcio antigo com um faraó, o francês da alta sociedade com Napoleão, o romeno escorreito do Conde Drácula e o simples grunhidos do primeiro Homo sapiens.
Só é uma pena que seu criador, Pierre Coffin, também diretor do filme, e que faz as vozes dos amarelinhos, não tenha desenvolvido a língua, como aconteceu em Star Trek, com o Klingon, Senhor dos Anéis, com o Quenya e o Sindarin, ou até mesmo no jogo The Sims, com o Simlish.
Para finalizar, a quantidade de referências é absurda. Há desde a clássica cena dos Beatles atravessando a Abbey Road, que foi capa do seu 12º álbum, à clássica frase God Save the Queen em todos os cantos da Inglaterra. Além de aparições dos seriados A Feiticeira, O Santo e The Dating Game, o equivalente ao programa Namoro na TV, apresentado no Brasil por Silvio Santos. E com espaço até para uma brincadeira bem-humorada com a mudança do uniforme da Guarda Real Britânica para algo mais no estilo minion. E para os leitores apressados, um recado: além de uma parte dos créditos ser animada, existe uma cena extra ao final.
Minions é um típico filme de férias, para ver, relaxar e dar risada. Além de ficar procurando informações escondidas, passatempo de todo nerd!
Minions
Duração: 91 minutos
Estúdio: Universal Studios
Direção: Kyle Balda e Pierre Coffin
Roteiro: Brian Lynch
Elenco vocal original: Sandra Bullock (Scarlett Overkill), Jon Hamm (Herb Overkill), Michael Keaton (Walter Nelson), Allison Janney (Madge Nelson), Steve Carell (Gru jovem), Pierre Coffin (minions).
Elenco vocal brasileiro: Adriana Esteves (Scarlett Overkill) e Vladimir Brichta (Herb Overkill) – o estúdio divulgou apenas esses nomes, infelizmente.