Resenha: O Esquadrão Suicida é uma agradável surpresa
A primeira cena de O Esquadrão Suicida mostra o Sábio (Michael Rooker) matando um lindo passarinho com uma bola. De cara, o diretor e roteirista James Gunn já mostra que não veio para pegar leve.
Em cinco minutos, com cenas de apostas e cintos de segurança, este filme já dá um banho de personalidade na sua contraparte de 2016. Em 15, a cena do passarinho dá a volta e o espectador já sabe que embarcou numa deliciosa montanha-russa.
Assim como na série Game of Thrones, a sensação de que nenhum protagonista está a salvo é bem-vinda, dando uma real sensação de consequências em potencial ao colocar qualquer personagem em situações de perigo. Isto reflete uma das vantagens da classificação indicativa mais alta, que usa e abusa de violência gráfica para mostrar que a morte está sempre à espreita.
Violência também que nunca pesa para um lado soturno. Pelo contrário. O humor permeia toda a obra, advindo de maneiras criativas de matar uma pessoa, pura comédia pastelão e diálogos sagazes bem encaixados.
Quando o Sanguinário (Idris Elba) e o Pacificador (John Cena) ficam se bicando sobre quem é o melhor matador, é impossível segurar as risadas de ver dois homens enormes agindo como adolescentes imaturos (a fala sobre “acertar mais no centro” é impagável).
Aliás, Elba é um baita ator e entrega a qualidade já esperada dele, mas Cena é um achado cômico, com ótimo timing e abraçando a proposta caricata de seu personagem.
Margot Robbie interpreta Arlequina pela terceira vez em um longa-metragem, e está à vontade no papel, com carisma de sobra para as excentricidades que solta com tamanha naturalidade. Joel Kinnaman agora tem um Rick Flag que é, de fato, interessante e carismático, e com um senso de camaradagem que é uma agradável surpresa auxiliando na criação de laços entre os membros do time.
Viola Davis está novamente perfeita como Amanda Waller, talvez ainda mais implacável e durona ao montar seu time de criminosos descartáveis que, com a boa mão de Gunn mesclando ação e comédia, parecem pessoas com passados, e não avatares unidimensionais de maldade.
Até mesmo os vilões mais obscuros da DC, como o Homem-Bolinhas (David Dastmalchian), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior) e Tubarão-Rei (Sylvester Stallone) dão gosto de ver na tela, com este último conseguindo ter uma inocência adorável, que possivelmente vai resultar em inúmeros fãs após as sessões.
Pode-se argumentar que os vilões, ou melhor, antagonistas, são os tais avatares unidimensionais de maldade mencionados acima, mas isso pouco importa, já que o foco no time principal e a mão firme e inspirada de Gunn compensam com louvor. Há uma cena de luta totalmente testemunhada pelo reflexo no capacete platinado do Pacificador que é um atestado à criatividade do diretor.
James Gunn adora personagens desajustados, sejam heróis ou vilões, e os presenteia com histórias que os humanizam e os homenageiam. Se acertou ao criar uma família com os Guardiões da Galáxia, ele melhora sua teia de humor e adrenalina para que o drama pedido pela história tenha impacto e atravesse a montanha-russa de sangue e traição para atingir o coração do espectador. O Esquadrão Suicida é um dos melhores filmes da DC em muitos anos.
O Esquadrão Suicida
Duração: 132 minutos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Elenco: Margot Robbie, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Idris Elba, John Cena, Michael Rooker, Nathan Fillion, Peter Capaldi, Flula Borg, Mayling Ng, Pete Davidson, Sylvester Stallone