Resenha: Pantera Negra é um grande espetáculo
Pantera Negra é um filme que enche os olhos.
O 18º filme da Marvel é uma bela celebração de um universo que já tem dez anos de idade e faturou mais de 13 bilhões de dólares.
A previsão é de que a película arrecade 170 milhões de dólares no final de semana (prolongado) de sua estreia nos Estados Unidos – embora a Disney esteja projetando um valor um pouco menor, de 150 milhões de dólares.
E o filme é um grande espetáculo, com muita ação, personagens mais complexos do que de costume para o gênero, com sequências visuais impressionantes.
Dirigida por Ryan Coogler, de Creed – Nascido para Lutar (leia crítica aqui) e Fruitvale Station – A Última Parada, a película é um dos raros blockbusters hollywoodianos com um elenco quase totalmente composto por atores negros.
Chadwick Boseman, de Get on Up – A História de James Brown, reprisa o seu papel como T'Challa, o Pantera Negra, super-herói que é o herdeiro do trono de Wakanda, uma nação isolacionista que esconde – literalmente – um avançado paraíso tecnológico no coração da África.
O personagem, visto anteriormente em Capitão América – Guerra Civil, segue os passos de seu falecido pai, T'Chaka (interpretado por John Kani), tanto como líder de Wakanda, quanto como o Pantera Negra, o defensor da nação.
A família do herói inclui sua mãe, a rainha Ramonda (Angela Basset) e sua irmã Shuri (Letitia Wright, num papel ótimo). Shuri é um gênio científico e a relação entre ela e o irmão é em parte responsável pela sensação de que o Pantera Negra é o 007 da Marvel, tendo T'Challa, como James Bond; e Shuri como Q.
Afinal, é Shuri quem cria para o Pantera uma nova versão de seu uniforme, feita de fibras de Vibranium, capaz de absorver e estocar energia, com nanoelementos que ficam guardados num colar.
A guarda real de Wakanda se chama Dora Milaje, é composta apenas por mulheres guerreiras e liderada pela General Okoye, muito bem interpretada por Danai Gurira.
Outra personagem de destaque é Nakia (papel de Lupita Nyong'o), uma guerreira que está interessada numa missão humanitária, ajudando países vizinhos que sofrem com a miséria, guerra, tráfico de armas e de escravos. Ela também é o alvo das atenções de T'Challa no filme.
O Pantera Negra tem quatro inimigos no filme: dois são os vilões Ulysses Klaue e Killmonger; e os outros dois, M'Baku (Winston Duke) e W'Kabi (Daniel Kaluuya), são antagonistas ocasionais, em função de suas posições políticas e pessoais.
Ulysses Klaue, o Garra Sônica dos quadrinhos, é um dos poucos personagens brancos do longa-metragem. O criminoso, interpretado por Andy Serkis – sempre espetacular –, já tinha estreado em Vingadores – A Era de Ultron. Ele havia roubado o precioso metal Vibranium, com a ajuda do príncipe N'Jobu, o tio de T'Challa (papel de Sterling K. Brown).
O roubo do Vibranium – que ocorre no passado, fora das telas – é um ponto central da trama. As consequências desse ato modificam as vidas de T'Challa e Killmonger e abalam Wakanda.
Killmonger, o grande vilão do espetáculo, é interpretado por Michael B. Jordan. Ele colaborou em dois outros filmes de Coogler (os já mencionados Creed e Fruitvale Station); viveu o garoto Wallace na excelente série de TV, The Wire; e foi Johnny Storm no fracassado Quarteto Fantástico, da Fox, de 2015.
Se por um lado T'Challa sabe quem é (como homem, como filho, como irmão, líder de sua nação e como defensor de seu povo), Killmonger busca tanto sua identidade quanto seu lugar no mundo.
Nascido Erik Stevens, ele adota vários nomes: Killmonger, um apelido criado em função do número de assassinatos que cometeu, cada um deles registrados em sua pele por escarificação; e N'Jadaka, seu nome na língua de Wakanda.
Ryan Coogler já explicou em várias entrevistas que a busca da identidade é um tema constante em seus filmes, e ela está presente neste filme.
A Marvel foi ousada criando um filme de super-heróis com um elenco negro, mas que não é uma película de nicho voltada apenas para o público afrodescendente, e muito menos um veículo de blaxploitation.
Os dois personagens brancos, Klaue e o agente da CIA Everett Ross (Martin Freeman), são secundários. O confronto não é de raças, mas de culturas. O estilo de vida isolacionista e afrofuturista de Wakanda e do Pantera Negra entra em choque com a realidade empobrecida e violenta de Killmonger.
Killmonger é um dos melhores vilões dos filmes da Marvel. Ele é brutal e simplista em seus objetivos, mas seu trauma é complexo e ligado diretamente com a atual realidade dos Estados Unidos.
Vale mencionar a participação de Forest Whitaker, como Zuri, e Stan Lee, conhecido pelo público que não lê quadrinhos como o “velhinho da Marvel”, que também faz sua tradicional aparição, na cena do cassino.
Quase tudo que se vê no filme está nos quadrinhos, mas de forma mais conturbada. O Pantera Negra surgiu em Fantastic Four # 52, em 1966, pelas mãos de Stan Lee e Jack Kirby. Na mesma história, também estreou o vilão Garra Sônica (Ulysses Klaue).
O Pantera pipocou alguns anos em participações nas revistas de outros heróis, como Capitão América e Demolidor, se juntou aos Vingadores, até ganhar uma revista própria.
Jungle Action, a revista em questão – cujo nome hoje seria considerado politicamente incorreto – era um título de reprints que publicava HQs da década de 1950, como Lorna, a Garota das Selvas; Tharn, um Ka-Zar de segunda categoria; e Jann, outra moçoila que era “das Selvas”. O Pantera faz sua estreia neste título na quinta edição.
Essa edição marca o início de Don McGregor no título e do arco de história A Fúria do Pantera, que foi pioneira por ter 13 partes e considerada por muitos como a primeira Graphic Novel da Marvel. Personagens como Killmonger e M'Baku, e muito da mitologia de Wakanda apareceram nessa HQ.
Dora Milaje, Okoye e Nakia só foram criadas em 1998, em Black Panther Volume 3 # 1, de Cristopher Priest e Mark Teixeira. Shuri só estreou em 2005, por Reginald Hudlin e John Romita, Jr., em Black Panther Volume 4 # 2.
A cena do Pantera com o Rinoceronte também foi tirada dos quadrinhos. Ela foi desenhada pela primeira vez por Gil Kane, e posteriormente repetida por outros autores.
Pantera Negra é um bom exemplo de que o gênero dos super-heróis no cinema ainda tem muito potencial e não precisa se limitar a fórmulas e conceitos gastos ou até ultrapassados.
Pantera Negra
Duração: 134 minutos
Estúdio: Marvel Studios
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler e Joe Robert Cole
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Andy Serkis, Winston Duke, Forest Whitaker, Sterling K. Brown, Angela Basset e John Kani