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Filmes

Resenha: Peter Pan é uma leve e despretensiosa viagem à Terra do Nunca

14 outubro 2015

Em um universo no qual piratas exterminam fadas, naus singram o céu e, em plena Segunda Guerra Mundial, a inteligência da Força Aérea Britânica é totalmente comandada por mulheres, uma criança não pode voar?

Bem, se ela acreditar em si, pode. E é sobre isso que Peter Pan trata.

O clássico Peter e Wendy, de J.M. Barrie, novamente volta às telas do cinema. Desta vez, com muitas mudanças, pois se trata de um prelúdio, mas que mantém seus personagens e sua magia. Porque Peter Pan é uma bela fantasia moderna.

De todas as adaptações desse marco da literatura para o cinema, esta foi a que mais mexeu em seu folclore. Contudo, nenhuma outra foi realmente fiel ao livro. Porque é um tanto complicado trazer às telas um garoto orgulhoso, mandão, egoísta, que mata outras crianças quando elas crescem e nutre certo desprezo por mães. Assim como seria difícil pôr em prática o fato de as fadas serem seres tão pequenos que comportam apenas um sentimento por vez. O que desperta com alguma facilidade o instinto assassino de Sininho.

Peter PanHugh Jackman como Barba Negra

Isso torna mais compreensível a visão do roteirista Jason Fuchs (Era do Gelo 4) e do diretor Joe Write (Anna Karenina, Orgulho e Preconceito) para a Terra do Nunca. Nela, há um ditador extremamente carismático, um dos melhores personagens, o pirata Barba Negra (Hugh Jackman) e um James Gancho (Garret Hedlund) que ainda não é capitão, mas um canastrão profissional. E este último já resolvendo os problemas com inteligência, porém sempre disposto a fugir deles, se necessário, além de ter a ajuda de Smee (Adeel Akhtar). E morrendo de medo de crocodilos.

Além deles, há também a Tigrinha (interpretada por Rooney Mara), trazendo muito do poder feminino de uma princesa guerreira a este conto fantástico. E, por fim, um adorável, audacioso e rebelde Peter Pan (Levi Miller), que não aceita obedecer ordens e sempre as questiona. Mas ainda é inseguro do seu verdadeiro potencial.

O enredo é uma grande aventura, com um leve romance, muitas cores e cenas de luta. O universo é atrativo e o espectador fica preso à trama do começo ao fim. Mas não com um ritmo nervoso. Ele foi habilmente dosado, do momento de rir, às lágrimas discretas (para os que se emocionam). Vale ressaltar que é tudo bastante previsível. Mas isso não invalida, de forma alguma, a bem executada película.

A história gira em torno da lenda do Pan, o guerreiro que chegaria à Terra do Nunca para salvá-la da tirania de Barba Negra. A partir daí, haverá muita correria, esconderijos, traições e redenção com efeitos especiais. E a versão 3D dá uma real sensação de objetos saindo da tela, proporcionando uma experiência bem divertida.

Peter Pan Gancho

Um dos detalhes que enaltecem o filme é a tribo indígena. Ela não é composta apenas por nativos de uma única etnia. A tribo é muito colorida, proporcionando quase um show do Cirque du Soleil e pó colorido. No entanto, é aqui que reside a maior polêmica do filme.

De acordo com a visão de Write, a Terra do Nunca é um lugar multiétnico, onde tudo é possível. O chefe dos nativos tem traços aborígenes, seu maior guerreiro é asiático, mas a sua princesa, a Tigrinha, é branca.

Na realidade, todos os atores principais são brancos de olhos claros. Todos. Isso irritou – e muito – a comunidade internética em 2014, gerando a petição online Warner Bros: Stop Casting White Actors to Play People of Color!, que ainda está em vigor, com quase 95 mil adesões.

Nela, é pedido para que o estúdio Warner Bros. pare de dar papéis de personagens de outras etnias para atores brancos. Write alegou que chegou a cogitar as atrizes Lupita Nyong’o (12 anos de escravidão) e Adèle Exaschopoulos (Azul é a cor mais quente) para o papel, mas decidiu por Rooney Mara, por ela ter, em suas palavras para o The Guardian, “uma qualidade régia e também por ser um pouco assustadora – você não mexeria com Rooney”.

Princesa TigrinhaPeter Pan na Tribo

O fato é que Rooney é uma atriz espetacular e desempenhou o papel muito bem. Porém, ver atores de outras etnias só em personagens secundários traz o questionamento da representatividade para o cinema. Principalmente por ser um filme que, por outro lado, faz questão de ter personagens femininas fortes. O maior guerreiro do longa é a mãe de Peter e a Tigrinha também não fica tão atrás. Ou seja, acertaram num lado e erraram em outro.

A trilha sonora é outro destaque. Composta por John Powell (Rio, Como treinar seu dragão 1 e 2), traz duas releituras de clássicos da música pop: Smell Like Teen Spirit, da banda grunge Nirvana, na entrada do Barba Negra, e Blitzkrieg Bop, dos Ramones. Mas também com músicas originais, como a gostosa Little Soldier, com a cantora britânica Lily Allen.

Peter Pan estava planejado para estrear em junho de 2015, mas com outros lançamentos programados para a mesma época – Homem-Formiga e Missão Impossível: Protocolo Fantasma – a Warner Bros. preferiu adiar. Decisão sábia, porém não tão eficaz, uma vez que filmes como Hotel Transilvânia 2  e  Perdido em Marte estão se dando melhor nas bilheterias.

Contudo, quem gosta de uma fantasia para relaxar, vai se divertir. Nada muito sério, profundo e revolucionário. Apenas um pouco de pó de pixum (nome original do pó de pirlimpimpim), uma pipoca e bebida para voltar à ilha encantada.

Peter Pan
Duração: 111 minutos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: Joe Write
Roteiro: Jason Fuchs
Elenco: Hugh Jackman, Levi Miller, Garret Hedlund, Rooney Mara

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